Você já deve ter ouvido falar sobre as repercussões causadas pela demência na pessoa acometida, na sua família e até na sociedade. Porém, o que muita gente não sabe é que cerca de metade dos casos poderia ser prevenida ao longo da vida, de acordo com a Lancet Commission on Dementia 2024. Para isso, é crucial abordar os fatores de risco desde cedo, até mesmo na infância, e continuar a acompanhá-los ao longo de toda a vida. Nunca é cedo demais e nem tarde demais para cuidar da nossa saúde.
A prevenção da demência começa com a construção da chamada “reserva cognitiva”, um conceito que se refere à capacidade do cérebro de resistir aos danos causados por doenças neurodegenerativas. Esse processo inicia-se na infância, especialmente por meio da educação. A Lancet Commission identificou que a baixa escolaridade está associada a um risco maior de desenvolver demência, sendo responsável por cerca de 5% dos casos de demência. Portanto, garantir uma educação de qualidade para todas as crianças é uma estratégia essencial para a prevenção.
Já na idade adulta (18 a 65 anos), condições como perda auditiva, colesterol LDL aumentado, depressão, lesões cerebrais traumáticas (como as que ocorrem em esportes de impacto ou acidentes), sedentarismo, diabetes, tabagismo, hipertensão, obesidade e consumo excessivo de álcool contribuem de forma significativa para o aumento do risco de demência. Entre eles, a perda auditiva destaca-se como um dos principais fatores, responsável por 7% dos casos de demência. E tratar essa condição, especialmente com o uso de aparelhos auditivos, pode reduzir significativamente o risco de desenvolver a doença.
A imagem anexada ilustra como esses fatores impactam o surgimento dessa doença ao longo da vida, destacando que a maior parte dos riscos modificáveis ocorre na meia-idade. No entanto, fatores como isolamento social, poluição do ar e perda de visão foram associados a um maior risco para o desenvolvimento de demência nos maiores de 65 anos.
A prevenção deve começar cedo e continuar até idades mais avançadas. É importante manter-se cognitivamente, fisicamente e socialmente ativo ao longo de toda a vida. A prática de atividades cognitivas e físicas durante a meia-idade pode fazer uma grande diferença, até mesmo para aqueles que tiveram menos educação formal. Além disso, tratar condições como depressão e perda auditiva, parar de fumar e adotar um estilo de vida saudável são intervenções que ajudam a proteger o cérebro contra a demência.
Outro fator emergente que merece atenção é o impacto da poluição do ar na saúde cerebral. Novas evidências indicam que viver em ambientes com altos níveis de poluição está associado a uma maior incidência de demência. Políticas públicas que promovam a melhoria da qualidade do ar, principalmente em áreas urbanas, podem ser uma ferramenta poderosa na redução do risco.
Em resumo, a prevenção da demência é uma tarefa que deve ser iniciada desde a infância e continuar ao longo de toda a vida. Cada fase apresenta desafios e oportunidades para reduzir os fatores de risco. As políticas públicas desempenham um papel crucial, garantindo educação de qualidade, ambientes mais saudáveis e acesso a cuidados preventivos. E com a adoção de intervenções apropriadas, é possível prevenir até 45% dos casos de demência, proporcionando a chance de envelhecer com mais saúde cognitiva e qualidade de vida.
Precisa de alguma orientação para controlar, um desses fatores? Marque uma consulta.

Fonte: Livingston G, Huntley J, Liu KY, Costafreda SG, Selbæk G, Alladi S, Ames D, Banerjee S, Burns A, Brayne C, Fox NC. Dementia prevention, intervention, and care: 2024 report of the Lancet standing Commission. The Lancet. 2024 Aug 10;404(10452):572-628.
Como é a consulta da geriatria?
Os diferenciais são o acompanhamento longitudinal e centralização do cuidado
A consulta da geriatria é muito mais do que apenas discutir sobre sintomas e prescrever medicações. Ela é um processo abrangente, focado em conhecer profundamente a pessoa, sua história de vida, suas relações sociais e seu contexto, para então fazer propostas que façam sentido para cada um.
A consulta pode ser indicada tanto para quem já possui uma ou mais comorbidades e busca um controle centralizado de sua saúde em um único médico, quanto para aqueles que estão preocupados com o futuro e querem envelhecer de forma mais saudável. Muitas vezes, pessoas que têm um pai ou mãe portador de doenças, como diabetes, hipertensão ou Alzheimer, procuram o geriatra para adotar para si medidas preventivas e garantir uma velhice ativa e de qualidade.
Uma das principais ferramentas que o geriatra utiliza é a Avaliação Geriátrica Ampla (AGA). Com ela, é possível examinar diversos aspectos da saúde, como cognição, humor, sentidos (visão e audição), além de hábitos essenciais, como atividade física e nutrição. Esses elementos são cruciais, pois pequenos problemas em um desses aspectos podem ter grande impacto na saúde geral do idoso.
A consulta geriátrica também se diferencia pelo tempo e atenção dedicados ao paciente. Ao contrário de consultas mais rápidas, focadas apenas em sintomas pontuais, o geriatra investe em entender cada detalhe da vida do paciente. Além disso, um exame físico completo é realizado para detectar questões que podem passar despercebidas em avaliações mais superficiais.
Depois de reunir todas essas informações, o geriatra, junto com o paciente e muitas vezes com a participação da família, constrói um plano de cuidados personalizado. Esse plano é específico para cada pessoa, levando em consideração suas condições de saúde, seus desejos, suas possibilidades e suas prioridades. O objetivo é garantir a melhor qualidade de vida possível, seja no controle de doenças já existentes, na prevenção de novos problemas ou no planejamento de cuidados futuros.
Seja para aqueles que já lidam com várias condições de saúde e querem centralizar o tratamento com um médico de confiança, seja para quem busca um envelhecimento mais saudável, a geriatria oferece uma abordagem completa e centrada na pessoa. Essa especialidade valoriza a história de cada indivíduo, promovendo um cuidado integrado e humanizado, capaz de transformar o processo de envelhecer em uma experiência de vida mais ativa e satisfatória.